01/10/2024

A Conexão da Cannabis com a Espiritualidade: O início de tudo!

A Cannabis nas Culturas Antigas: Uma Jornada Espiritual Através dos Séculos

 

A relação entre a cannabis e as práticas espirituais é antiga e entrelaçada em diversas culturas ao redor do mundo. Esta planta foi usada para facilitar a conexão com o divino, promover a cura espiritual e induzir estados alterados de consciência em cerimônias religiosas. Neste capítulo, vamos explorar como diferentes civilizações usaram a cannabis ao longo dos séculos, desde as mais antigas até as mais recentes, destacando sua importância espiritual.

 

1. Sumérios e Acádios: Cannabis na Antiga Mesopotâmia (~3.500 a.C.)

 

Na antiga Mesopotâmia, considerada o berço da civilização, havia menções ao uso de plantas psicoativas em rituais religiosos. Embora não haja consenso absoluto sobre a cannabis, alguns textos sumérios sugerem que ela era utilizada em práticas espirituais para curas e oferendas aos deuses. O uso ritual de plantas na Mesopotâmia antiga estava intimamente ligado à conexão com entidades divinas como Enlil, o deus do vento.

 

2. Civilização Egípcia: Cannabis e o Renascimento Espiritual (~2.000 a.C.)

 

No antigo Egito, a cannabis era usada principalmente para fins medicinais, mas também desempenhava um papel espiritual em rituais fúnebres. Papiros médicos datados de cerca de 2.000 a.C. mencionam a planta no tratamento de inflamações e dores. Acreditava-se que seu uso em cerimônias poderia facilitar a jornada espiritual dos mortos para o além, conectando-os aos deuses, como Anúbis, o guardião do submundo.

 

3. Civilização Hindu: Cannabis no Hinduísmo e o Deus Shiva (~1.500 a.C.)

 

A cannabis, chamada de bhang, é considerada uma planta sagrada no hinduísmo desde 1.500 a.C. O bhang, uma bebida preparada a partir de folhas de cannabis, é uma oferenda ao deus Shiva, que, segundo as escrituras, consome a planta para meditar e aumentar seu poder espiritual. Durante o festival de Mahashivaratri, a bebida é amplamente consumida pelos devotos como um meio de se conectar espiritualmente com Shiva.

 

4. Zoroastrismo: O Haoma e os Rituais Persas (~1.200 a.C.)

 

O Zoroastrismo, uma religião da antiga Pérsia (atual Irã), fazia uso de uma bebida sagrada chamada Haoma, que muitos estudiosos acreditam incluir a cannabis como um de seus ingredientes. O Haoma era central em cerimônias de purificação espiritual, sendo mencionado no Avesta, textos sagrados de cerca de 1.200 a.C., como uma substância que conectava os sacerdotes ao deus Ahura Mazda, promovendo visões e comunhão divina.

 

5. Judaísmo: Cannabis no Antigo Testamento (~1.000 a.C.)

 

Há indícios de que a cannabis tenha sido mencionada em textos bíblicos antigos. Alguns estudiosos sugerem que o termo "kaneh bosm" encontrado no Antigo Testamento (Êxodo 30:23) poderia se referir à cannabis. Esse "óleo sagrado" era utilizado para unções e rituais de purificação no Tabernáculo, o lugar onde a Arca da Aliança estava guardada. Acredita-se que esse óleo tenha sido utilizado por sacerdotes para facilitar o contato espiritual com YHWH, o Deus de Israel.

 

6. Práticas Celtas e Druídicas: Cannabis na Europa Ocidental (~700 a.C.)

 

Os celtas, que habitaram a Europa Ocidental durante a Idade do Ferro, usavam ervas em rituais espirituais. Embora não haja menção explícita da cannabis nas tradições druídicas, os estudiosos sugerem que ela poderia ter sido usada devido à sua disponibilidade e ao uso ritual de ervas pela cultura celta. Os druidas, sacerdotes celtas, empregavam plantas em cerimônias de cura e adivinhação.

 

7. Tribos Nômades da Ásia Central: Os Citas e a Cannabis Cerimonial (~500 a.C.)

 

Os citas, um povo nômade que habitava as estepes da Ásia Central, tinham uma relação documentada com a cannabis. Heródoto, o historiador grego, descreveu por volta de 500 a.C. como os citas usavam sementes de cannabis em tendas fechadas, inalando a fumaça durante rituais fúnebres. Esse uso tinha a intenção de purificar o corpo e a mente e permitir uma conexão espiritual com os mortos.

 

8. Civilização Maia: Cannabis e o Sagrado no Novo Mundo (~200 a.C.)

 

Embora a cannabis não tenha sido tão amplamente usada pelos maias quanto outras plantas alucinógenas, há indícios de que ela estivesse presente em alguns rituais sagrados. A partir de 200 a.C., os maias usavam ervas em cerimônias dedicadas aos seus deuses, como Kukulkan. Resquícios de ervas queimadas em contextos religiosos sugerem que a cannabis possa ter sido uma delas, usada para abrir portais espirituais.

 

9. Práticas Espirituais Africanas: Cannabis em Tribos Bantu e Zulu (Século IX d.C.)

 

Na África, a cannabis fazia parte de cerimônias religiosas desde o século IX d.C., especialmente entre tribos banto e zulu. Os curandeiros dessas tribos utilizavam a planta em cerimônias de purificação e cura, onde a fumaça da cannabis permitia que os xamãs se conectassem com espíritos ancestrais. A planta também era usada para curas espirituais e fortalecer laços com as divindades tribais.

 

10. Tribos Indígenas da América do Norte: Cannabis e o Cânhamo Cerimonial (Século XV d.C.)

 

Entre as tribos nativas da América do Norte, como os cherokees e iroqueses, o cânhamo era utilizado principalmente para a fabricação de ferramentas, mas também tinha um papel cerimonial. Desde o século XV, as tribos queimavam cânhamo em rituais de purificação espiritual, invocando espíritos da natureza. Embora não se tenha registro claro do uso psicoativo da cannabis, seu papel espiritual como purificador era significativo.

 

Conclusão: A Jornada Espiritual da Cannabis Através das Culturas

 

A cannabis percorreu uma longa jornada, sendo venerada por muitas culturas ao longo dos séculos como uma planta sagrada, capaz de facilitar a conexão com o divino, promover curas espirituais e alterar estados de consciência. Seja no Antigo Egito, nas montanhas da Ásia Central ou nas selvas da América do Sul, a cannabis desempenhou um papel fundamental nos rituais espirituais de diversas culturas. No próximo capítulo, exploraremos como a cannabis foi recebida no mundo moderno, sua transição para uso medicinal e recreativo, e o que a ciência nos revela sobre seus compostos poderosos.

 

 


Fontes:

  1. Booth, M. (2003). Cannabis: A History. Transworld Publishers.
  2. Heródoto. Histórias (Livro IV, seção 75).
  3. Emboden, W. (1981). Ritual Use of Cannabis in Ancient Egypt. Journal of Psychoactive Drugs.
  4. Benet, S. (1975). Early Diffusion and Folk Uses of Hemp. Journal of Cannabis Culture.
  5. Merlin, M. D. (2003). Archaeological Evidence for the Tradition of Psychoactive Plant Use in the Old World. Economic Botany.
  6. Needham, J. (1976). Science and Civilisation in China: Volume 5, Chemistry and Chemical Technology. Cambridge University Press.